PARABÉNS... MECÃO COMPLETA HOJE 97 ANOS




Você sou eu...
Eu nunca falei com você, nunca lhe dei um bom dia, boa tarde, boa noite! E, mesmo assim, você já me fez tanto bem.

Também nunca fiz mal algum à você, nunca o feri ou prejudiquei sua vida. Mas, mesmo assim, você me fez sofrer algumas dezenas de vezes. Lembra?

Eu já fiquei endividado, e foi por sua causa, tomei até dinheiro emprestado a um amigo, usei o limite do cheque especial. Comprei camisas que eu nem precisava comprar, só pra agradar.

Por sua culpa, eu já briguei com a minha mulher, desde a época em que apenas namorávamos. Já discuti com o meu pai quando o assunto era algo sobre você.

Também foi por sua culpa, a aproximação com o meu meio irmão – hoje é irmão e meio (que bem você me fez).

Eu fico tentando mudar, te esquecer, negar este sentimento, fingir que você não existe, mas quando penso que lhe esqueci, tudo lembra você.

Por sua causa, eu já sorri tanto, falei fervorosamente com pessoas que nunca tinha visto antes (abracei muitas delas), quase bati o carro, fiquei com ressaca brutal, ignorei resfriados, gripes suínas e brigas de gangues.

Por você, e eu não entendo isso, faço mil e uma coisas só pra expressar o meu amor. E você ainda tem coragem de me entristecer, de fazer este coração amolecer. Por sua causa, somente por sua culpa, eu não consigo mais largar este sentimento!

Eu penso em você a cada momento em que penso em mim, parece que você se tornou a extensão dos meus sentimentos dúbios, dos meus sonhos de criança, dos meus horários recreativos na escola. Nos meus sonhos, você é o vencedor no Coliseum.

Por sua causa, até a novela das oito perdeu o valor lá em casa, a minha mulher vem te aceitando!

Por você, eu busco saber quem eu sou nas horas vagas – e descubro. Por este relacionamento, eu tenho viajado e sonhado sem sair do lugar. Também, teve momentos em que você me deixou na elite, e outros em que me deixou mediano, até me rebaixar.
Só que agora estou com medo, receio de lhe enganar. Pois, antes eu conseguia me controlar, e hoje eu não consigo disfarçar, até o meu chefe já notou. Penso em fugir disso tudo.

Talvez, e espero estar errado, a minha maior culpa é achar que você sou eu. Opa, espere aí, tem um cara ali igualzinho a mim. Ele tem os mesmos atos, usa a mesma roupa que estou usando, o coração dele bate tão forte quanto o meu, seus olhos brilham, ele sorri... e ele chora. Deve ser apenas uma coincidência!

Calma, tem um garoto ali, parece que ele tem os mesmos cacoetes, o mesmo gosto no vestir, os olhos brilham. É, eu não estou enganado, você me trai, conquista a outros que também o amam, igualmente.

Agora, eu já vou! Meu coração produz espasmos em meu corpo, irei partir para não sofrer, irei embora de uma vez. Tenho viajado por ti, mas você não entende todo o meu esforço.

Calma, parece que vou regredir, aguarde um pouquinho a minha decisão, permita que eu o veja por mais uma hora e trinta minutos. Assim, quem sabe, me faça esquecer todo este ciúme que guardo de você, entendendo que sem você sou apenas um humano. Mas com você, sempre poderei ser um super-herói. Quem sabe eu chegue a conclusão de que preciso dividir esse amor com outros.

Receio que no dia em que você cansar de mim, eu não saberei o que dizer ao ver os meus amigos, na segunda feira, pela manhã. Não poderei zombar, brincar, repelir, sorrir ou reclamar. Mas você parece que não me entende tão bem.

No dia em que você prestar mais atenção em mim, no que eu sinto, você vai entender que já somos quase o mesmo ser. Neste dia, a minha casa será sua – assim como a sua é quase a minha -, e poderemos viver com nossos conflitos. Seremos unidos até o dia do meu fim, e aí saberão do meu coração, que batia impulsionado por seus atos, e parou desamparando novos feitos em conjunto. Pois, descobri que você é eterno, não envelhece como eu, apenas aniversaria. O teu amor se propaga pelas gerações, o meu amor se consolida ao mesmo tempo em que a experiência me doutrina.

Enfim, eu nunca poderei levar você comigo, já que não me pertences. Mas, neste mundo injusto, descobri que pertenço a você, estando fadado a seguir um amor que me consome sem explicações plausíveis, apenas assim, simples.

Você sou eu, e os teus rivais só existem para que eu entenda a sua grandeza!

Obrigado, América de Natal! Seja na dor ou na vitória, sempre América. Não importa a divisão, nada nos
separa. Não importa o alçapão, nada nos aflinge. Não importa a derrota, nada nos destrói - a sua tradição nos vincula.

Andrelúcio Ribeiro



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