COLUNA DO TÚLIO LEMOS (14 DE AGOSTO)

A morte trágica e prematura de Eduardo Campos revela a impotência humana diante do imprevisível. Um jovem idealista, com imagem de grande gestor, sem máculas, destemido e desapegado, larga uma vitória tranqüila para o Senado por uma disputa desproporcional no caldeirão desumano do cenário nacional e sai da política para entrar para a história.
QUALIDADES
Muito se diz, de forma chula, um ditado popular: “Quer virar ‘santo’, morra ou se mude”. Quis o destino que Eduardo Campos tivesse suas qualidades amplificadas em caráter nacional, principalmente por seus adversários políticos, por causa de uma tragédia. O Brasil só conheceu quem era Eduardo Campos após sua morte. Fazer o que? Somos mais afeitos a potencializar os defeitos de nossos supostos adversários, com objetivo de esconder as próprias falhas.
DEFEITOS
Eduardo Campos entrou na disputa até ridicularizado por seus ex-aliados do PT, a quem serviu até na condição de ministro. Por conta dessas miudezas da política, boa parte dos petistas passou a esconder suas qualidades e expor defeitos que antes não existiam.
POTENCIAL
Dificilmente Campos iria ao segundo turno da sucessão presidencial. Dificilmente, porque na política, assim como na vida, não há nada impossível antes de ser materializado. Porém, era improvável que o neto de Arraes conseguisse superar Dilma ou Aécio e prorrogasse a disputa. Mas sua disposição era invejável.
MÁRTIR
Como sempre ocorre em situações semelhantes, há exageros na avaliação. Eduardo Campos era humano, foi um grande político e dispunha de novas idéias para tentar mudar o Brasil. Dizer que virou mártir é um exagero sem vínculo com a realidade. Ele não morreu lutando nem ‘entregou a vida pelo Brasil’. Morreu vítima de um acidente em plena campanha eleitoral. Campos foi o maior governador da história de Pernambuco e um político sério e promissor. O restante fica por conta da bajulação pós morte, geralmente recheada de falsidade e hipocrisia.
RESPEITO
As redes sociais democratizam a comunicação e facilitam a informação. Porém, serve também para revelar a inexistência de caráter de certas pessoas que tínhamos na conta de gente do bem. Alguns não tiveram o menor respeito à família de Eduardo Campos, fizeram piadas, cuspiram recalques, vomitaram sua pequenez. Antes de ser um político, Eduardo Campos era pai de uma família de cinco filhos, fruto de seu casamento com Renata, pólo centralizador de todo o sofrimento familiar.
CONSEQUENCIAS
A saída de Eduardo Campos da sucessão, provoca uma mudança inevitável no cenário da disputa presidencial. Marina Silva poderá assumir a candidatura e, alimentada pela comoção nacional, receber solidariedade em forma de voto.
MUDANÇA
Marina entrou como vice de Campos quando ainda aparecia com mais de quase 30% de intenção de votos. O neto de Arraes, após um mês de campanha, se aproximava dos 10%. Ela pode ser a opção para quem quer fugir da tradicional disputa entre Dilma e Aécio. Sua presença praticamente garante a realização do segundo turno.
SOFRIMENTO
Do RN, quem mais conversou com Eduardo Campos nos últimos dias foi o ex-deputado Cláudio Porpino, coordenador da campanha do PSB no Nordeste. O neto de Miguel Arraes havia pedido a Porpino um roteiro de 40 carreatas pelas 40 maiores cidades nordestinas. Cláudio materializou o sofrimento pela perda do amigo.
SOFRIMENTO II
Wilma de Faria conheceu Eduardo Campos quando era assessora de Miguel Arraes e o neto do governador era secretário de Governo. O jovem cresceu também na política e criou laços de amizade com Wilma que iam além da política. A mulher de José Maurício também sofreu bastante com a notícia da morte do amigo.
VITÓRIA
O América foi ao Maracanã praticamente derrotado; o objetivo seria apenas evitar a humilhação nacional. Uma força imprevisível moveu o time, que demonstrou superioridade e venceu de goleada dentro do Maracanã, o vice-líder da Série A do Campeonato Brasileiro.
VITÓRIA II
Sempre são feitas analogias entre a política e o futebol. Em ambas, não há vencidos ou vencedores antes do final verdadeiro. Um candidato começa o pleito quase sem perspectiva e consegue ganhar a eleição. Um time entra em campo quase derrotado e termina vitorioso. Ou seja: Ninguém pode cantar vitória antes do tempo nem chorar derrota antecipadamente.

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