COLUNA DO JORNALISTA TÚLIO LEMOS (JORNAL DE HOJE)

O prefeito Carlos Eduardo fez uma gestão razoável quando passou pela Prefeitura do Natal. Corajoso, rompeu com a família, se aliou a forças mais progressistas e gerenciou a cidade sem ceder a pressões nem do poder econômico. Saiu bem, apesar de não conseguir eleger seu sucessor.
EQUÍVOCO
O filho de Agnelo continuou com seu projeto de manter a coragem e eqüidistância da família que o pariu como político e foi candidato a governador contra todos. Perdeu feio; mas manteve a coerência e fortaleceu a imagem de que era diferente e não fruto e beneficiário da oligarquia.
PREFEITO
Veio a eleição para prefeito de Natal. Carlos Eduardo recusou pedido de filiação no PMDB para ser apoiado em 2012. Parecia ser o caminho mais fácil para voltar a administrar a capital. Ele recusou e teve que enfrentar a ira dos primos contra sua candidatura. O PMDB, comandado por Henrique, tentou de tudo para desestabilizar sua candidatura e derrotar sua pretensão. Gastou quase R$ 10 milhões contra ele. Não adiantou. Longe da família e contra sua própria oligarquia, Carlos Eduardo venceu o pleito.
APOIOS
Para ser eleito contra o candidato do PMDB, Carlos Eduardo foi apoiado por Robinson Faria e, no segundo turno, pelo PT de Fátima Bezerra. Começou governando com os dois partidos que lhe respaldaram. Veio a eleição para governador e tudo mudou.
MAJORITÁRIA
Na disputa majoritária de 2014, Carlos Eduardo tinha tudo para ser o grande vencedor sem fazer muita força. Bastava apoiar quem lhe apoiou. Ele fez o contrário. Apoiou justamente o presidente do PMDB, que tentou lhe derrotar. O apoio de Carlos Eduardo terminou simbolizando mais o reencontro familiar, uma reconciliação da oligarquia Alves, do que propriamente o apoio do prefeito da capital a um candidato viável politicamente; mas rejeitado pelo eleitorado.
RADICALISMO
Henrique sempre foi o radical da família; na campanha, assumiu erros do passado e afirmou que tratava-se de um ‘ex-radical’ regenerado pelo tempo. Carlos Eduardo, que não disputava mandato, assumiu o lugar do primo e fez dois discursos agressivos contra seu amigo e vizinho: “Não acredito que alguém saia de casa para votar em Robinson Faria” foi um deles. O outro foi ainda mais pesado: “Robinson e Rosalba estão juntos. Vamos jogar os dois na lata de lixo da história”.
MUDANÇA
O apoio de Carlos Eduardo a um candidato é natural. Mesmo que seja um ex-adversário. Faz parte da ‘dinâmica’ da política. A questão é que ele acirrou de forma desnecessária e desproporcional. Perdeu a eleição em Natal e seus candidatos não foram respaldados pelo eleitorado.
FUTURO
Derrotado eleitoralmente e com o futuro governador como adversário, além de já ter um candidato declarado contra sua reeleição, sendo apoiado por Robinson Faria e pela presidente Dilma, o prefeito Carlos Eduardo vai ter muito trabalho pela frente para reverter essa situação e evitar se ‘micarlizar’ pela falta de recursos.
OLIGARQUIA
O que aproximava Carlos Eduardo de partidos progressistas e o unia a setores mais à esquerda, era justamente o fato dele ser oriundo da oligarquia Alves, mas ter tido a coragem de romper com a própria família e construir sua história. A volta ao seio familiar, destrói o discurso do prefeito e o liga de forma irreversível, ao palanque que sempre combateu; e que a população derrotou com a vitória de Fátima Bezerra e Robinson Faria.
PEDRAS
Servidores da Prefeitura de Natal que não podem ser identificados, conversaram com a coluna e repassaram algumas informações interessantes a respeito das polêmicas pedras do enrocamento de Ponta Negra.
PROJETO
De acordo com os servidores, o projeto feito estabelece que as pedras devem pesar entre 600 kg e 2 toneladas e que foram pagas pedras como se pesassem 2 toneladas; mas nenhuma pesou mais que 900 kg. O valor total do enrocamento chega a R$ 5 milhões e eles dizem que daria para o mesmo serviço ser realizado pela metade do valor.
SUSPEIÇÃO
Ainda de acordo com servidores que entraram em contato com a coluna, a promotora Gilka da Mata deveria alegar suspeição e deixar a investigação somente com o Ministério Público Federal. Segundo eles, há uma grande aproximação da promotora com a gestão municipal, o que estaria dificultando um rigor maior na apuração dos fatos.
INVESTIGAÇÃO
O fato é que essa história do enrocamento em Ponta Negra está meio esquisita. E não fica somente no peso das pedras. É preciso investigar tudo, a partir do projeto, dos pagamentos e da execução. A dúvida não favorece a quem governa. Suspeita de irregularidade, associada a cheiro de desvio ou superfaturamento, não são boas companhias para um Governo que quer ser sério.

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