COLUNA DO JORNALISTA TÚLIO LEMOS (JORNAL DE HOJE)

O primeiro mandato do prefeito Carlos Eduardo foi beneficiado pelas circunstâncias políticas. Amparado pelo PT, o filho de Agnelo conseguiu verbas generosas do Governo Lula da Silva, o que lhe permitiu fazer uma administração acima do razoável, com marcas mais fortes na periferia da cidade e ataques a problemas estruturais.
MICARLIZAR
Em seu novo mandato, Carlos Eduardo ainda não conseguiu sequer resolver os problemas básicos, deixados pelo furacão Micarla de Sousa. Mesmo com respaldo político, inclusive do PT, o prefeito não conseguiu deslanchar. No geral, não é alvo de desgaste acentuado; mas no detalhamento, sua gestão deixa muito a desejar. Caso não mude o quadro, corre o risco de micarlizar sua administração e comprometer seu projeto de reeleição.
DESGASTE
O desgaste de um partido pode ou não ser vinculado a uma determinada candidatura. No caso do PT, por exemplo, os líderes da legenda aqui no Estado, Fátima Bezerra e Fernando Mineiro, não foram atingidos pelo aspecto negativo. Podem ser alcançados no futuro? Dificilmente. Apesar da filiação, pelo menos até o momento, Fátima e Mineiro nunca se envolveram com nada que pudesse contaminar sua imagem. E, na política atual, imagem limpa é tudo.
MORTE
Em política, não custa reforçar: Ninguém morre em definitivo; é a única situação em que a morte não é definitiva. Já tivemos casos em que a derrota parecia ter o mesmo efeito que a morte. Wilma de Faria, Aluízio Alves, Garibaldi Filho, José Agripino… Quase todos já vivenciaram momentos de aparente morte política.
VOLTA
Em 1985, a abertura democrática traz de volta a eleição direta para prefeito de capital. Franco favorito absoluto, praticamente sem adversário, o então deputado estadual Garibaldi Filho, é lançado pelo PMDB para disputar o pleito. A então secretária de Ação Social do Governo, Wilma de Faria, é levada à disputa inglória e perde a eleição.
RESURGIMENTO
A derrota de Wilma para a Prefeitura de Natal a fez conhecida como política e não mais como esposa do ex-governador Lavoisier Maia. Ganhou visibilidade própria, usada na campanha seguinte. Em 1986, Wilma foi candidata a deputada federal e foi a mais votada, numa campanha sem grandes recursos e sem apoios de lideranças. A derrota em Natal projetou a carreira de Wilma, que passou a contabilizar mais vitórias que derrotas e ter vida própria na política.
LÍDER
O maior líder político popular do RN, Aluízio Alves, experimentou sua grande derrota contra o então jovem engenheiro prefeito biônico de Natal, José Agripino. Em 1982, o pai de Henrique foi candidato a governador e enfrentou o filho de Tarcísio Maia. Foi uma derrota inquestionável para Aluízio, que perdeu com mais de 100 mil votos de maioria e significou o surgimento da carreira vitoriosa de Agripino.
MINISTRO
Com a derrota para Agripino, todos assinaram o atestado de óbito político para Aluízio. Porém, em 1985 ele foi alçado a condição de integrante da cúpula nacional do PMDB na luta pela democracia. Com a morte de Tancredo e a posse de Sarney, Aluízio Alves virou ministro e voltou a ter força também na política do RN.
SENADO
Em 2006 Wilma de Faria foi candidata a reeleição. Considerado governador de férias, Garibaldi Filho foi à disputa e perdeu pra Wilma. No ano seguinte, foi eleito presidente do Senado Federal e fez uma gestão elogiada pela mídia nacional. Sem a derrota para a mãe de Lauro, o pai de Waltinho jamais teria sido eleito presidente do Congresso.
HENRIQUE
Poderíamos citar vários outros casos em que derrota não significa morte política. Na situação atual, temos Henrique Alves derrotado por força de sua própria rejeição. Após 44 anos de poder, ficará sem mandato eletivo pela primeira vez. Voltará à planície. Não será fácil sua nova vida; ele não estava preparado para isso e o sofrimento com a mudança será grande.
HENRIQUE II
Mas Henrique não morreu politicamente. Tem força na cúpula partidária e soube usar seu prestígio para fortalecer relações. Se quiser, será ministro de Dilma por força da aliança com o PMDB. Na condição de ministro, se ocorrer, poderá se projetar de forma mais objetiva na política do RN. O que derrotou Henrique foi sua imagem negativa reforçada ao longo dos anos. O que poderá tirar-lhe do ministério é seu envolvimento com a Operação Lava Jato. Sem isso, volta ser forte também na política potiguar.
IMAGEM
O que mata um político não é a derrota, mas a imagem negativada por envolvimento com corrupção e a perda da credibilidade. Perder ou ganhar faz parte do jogo. Quem mantiver a imagem limpa, será sempre lembrado e jamais sepultado definitivamente.

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