RESUMO DA ESCRAVDÃO NO RIO GRANDE DO NORTE

A história da escravidão africana no Rio Grande do Norte é extremamente negligenciada. Houve uma significativa presença negra em nosso Estado, mas não existem muitos registros documentados daquela época e as escolas não dão a devida atenção às informações que se tem, talvez até pela falta de conteúdo didático disponível. Mas nós achamos extremamente importante a preservação da história afro-potiguar, afinal, comemoramos essa semana o Dia da Consciência Negra. Por isso fizemos um breve resgate histórico sobre a passagem africana em terras potiguares e sua contribuição para o nosso Estado.

Chegada dos escravos ao Rio Grande do Norte


Segundo o escritor Hélio Galvão, na construção da Fortaleza dos Reis Magos (1598) já se constata a presença de escravos no RN. Chamados de “negros de serviço da fortaleza”, eles eram responsáveis pelos serviços braçais para erguer a edificação. Em 1600 o primeiro capitã-mor do Rio Grande do Norte, João Rodrigues Colaço, já falava com Manuel Mascarenhas que compraria escravos de Guiné para começarem a plantar e produzir nas terras da Capitania do Rio Grande.

É importante dizer que a presença escrava no RN sempre foi pequena se comparada às demais regiões do país. As atividades econômicas exercidas, tanto na época de capitania quanto na de província, nunca demandaram muita mão de obra escrava.

Mesmo sem um número tão significativo, o negro foi fundamental para a formação econômica do Rio Grande do Norte.

Relação de escravos e senhores

A relação dos escravos com os senhores no Sertão do Rio Grande do Norte era relativamente boa, como diz Câmara Cascudo:

“O escravo não era bicho para tortura. Raro era o mau Senhor ou a Senhora malvada para as negras bonitas (…) Negros cantadores ganhavam sua liberdade com o patideiro ou a viola na mão. Nunca passou pela cabeça do senhor arrebatar-lhe o pequenino peciilio. Havia respeito pela vontade do escravo alforria-se começando a dar dinheiro ao amo para a sua manumissão ficava com um direito indiscutido. Num inventário de 1785, do Capitão Pedro da Cunha Calheiros (falecido a 7 de agosto de 1783) vários escravos deixaram de ser incluídos na relação por haverem iniciado o pagamento de sua alforria”.

No sertão eles se transformaram em vaqueiros, dividindo, inclusive, as tarefas com seus senhores e com um tratamento totalmente diferente se comparado a outras regiões do país, onde o escravo era visto como um simples “animal de carga” que era açoitado por motivos banais. É importante dizer que isso não torna a escravatura potiguar uma maravilha, pois os negros, ainda assim, eram tratados como mercadoria e tinham que pagar pela sua própria liberdade.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos


Um marco importante na história afro potiguar é a construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário – Padroeira dos Pretos. A igreja foi construída no início do século XVIII e foi a segunda a ser erguida no RN. Surgiu da necessidade dos negros possuírem um templo para poder prestar seus cultos católicos sem se misturar com os brancos, o que não era permitido na época. É importante dizer que isso não é uma exclusividade do Rio Grande do Norte, pois existem igrejas semelhantes em todo o Brasil com o mesmo propósito.

Aqui em Natal ela foi construída em local privilegiado, com uma vista fantástica para o Rio Potengi e a poucos metros da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, a primeira e principal da cidade. Também ficava a poucos metros do Pelourinho da Praça André de Albuquerque (Praça Vermelha), lugar onde os negros eram castigados.

DICA: Aconselho você visitar a Antiga Igreja Matriz e logo após ir para a Igreja do Rosário, para sentir a atmosfera da época estampada na diferença entre as construções.

O abolicionismo no Rio Grande do Norte

Mossoró foi o segundo município brasileiro a abolir a escravidão. Cinco anos antes da Lei Áurea a população mossoroense entrava em um acordo que não precisou sequer de imposição de lei, um enorme orgulho para todo o Rio Grande do Norte.

Mossoró possuía um número irrisório de escravos. Segundo documentos, eram apenas 86, isso devido às dificuldades que o Nordeste enfrentava na época. Durante o período, a cidade também se tornou um refúgio para escravos que fugiam de outros municípios do Estado.

Os escravos de Mossoró não abandonaram as fazendas, mas foram contratados, dessa vez como funcionários, algo totalmente diferente do que aconteceria cinco anos depois, com e Lei Áurea, quando os escravos foram expulsos e marginalizados.

É importante destacar alguns abolicionistas importantes na história do Rio Grande do Norte, como é o caso do Padre João Maria, Nísia Floresta, Pedro Velho, Baronesa Belisária Lins Wanderley e a importante participação dos maçons, como no caso de Mossoró, com a Loja Maçônica 24 de Julho.

O fim da escravidão


O Rio Grande do Norte sempre foi um Estado receptivo ao fim da escravidão, até porque, para o Estado, os escravos apresentavam mais desvantagens econômicas que vantagens, já que o escravo não era tão necessário para as atividades econômicas da província.

Segundo a Sociedade Libertadora Norte-Rio-Grandense, antes mesmo do dia 13 de maio de 1888 a província do Rio Grande do Norte já se encontrava assim:

• Municípios livres: Natal, Mossoró, Carnaúbas, Triunfo, São José de Mipibu, Canguaretama, Papari, Nova Cruz, Angicos, Touros, Portalegre e Príncipe;
  • Cidades livres: Açu, Jardim e Apodi;
  • Vilas livres: Macaíba, Arez, Goianinha, Santa Cruz, Pau dos Ferros, Santana do Matos, São Miguel, Acari e Serra Negra;
  • Povoações livres: Utinga, Poço Limpo, Igreja Nova, Ponta Negra, Pirangi, São Gonçalo, Ganduba, Piau, Mangabeira, Cana Brava, Extremoz, Patu, Brej i nho, Tibau, Genipabu, Santo Antônio de Goianinha, Carapebas, Currais Novos, Boa Cica, Pipa, São João do Príncipe e Tabatinga.

Os dados dão conta que existiam apenas 482 escravos na província, um número pequeno se comparado aos mais de 24 mil de 1870.

Mas atente-se para o fato de que a libertação de escravos na província do Rio Grande do Norte se deu, principalmente, por motivos econômicos. Claro que existiam abolicionistas com um pensamento humanitário, mas a real motivação do declínio da escravidão no RN foi a crise econômica.

Um capítulo triste na história da humanidade

A escravidão é até hoje considerada um dos maiores crimes contra a humanidade. É difícil imaginar como o ser humano tinha a capacidade de ser tão cruel a ponto de tratar outro de sua espécie como simples mercadoria, praticar torturas por motivos banais e proporcionar uma vida de sofrimento, fome, falta de higiene e diversos outros absurdos que hoje nem os animais domésticos são submetidos.

O Dia da Consciência Negra é extremamente importante para que ninguém esqueça de um passado tão próximo. Há 130 anos o negro era escravizado e até hoje sofre com a “herança” desse capítulo de sua história. Para quem duvidar dessa “herança” e achar que é vitimismo ou frescura, seguem os dados:

– apenas em 2089, daqui a pelo menos 72 anos, brancos e negros terão uma renda equivalente no Brasil – pesquisa da ONG britânica Oxfam;

– homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País. A população negra corresponde à maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios – dados do Atlas da Violência 2017;

– mais da metade dos presos no Brasil (61,6%) é formada por pretos e pardos, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen);

– E 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior, enquanto 26,5% dos jovens brancos conseguem esse feito, segundo o IBGE.

fonte: Todo Natalense (facebook)

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