MILITARES PEDEM "FREIO DE ARRUMAÇÃO"
Igor Gielow
O agravamento da crise política levou três expoentes da ala militar do governo ao
encontro de Jair Bolsonaro (PSL) para expressarem a queixa do setor
sobre a influência dos filhos do presidente e sobre a inoperância da
articulação com o Congresso.
Segundo relatos, os generais da reserva e ministros Augusto Heleno
(Gabinete de Segurança Institucional), Fernando Azevedo (Defesa) e
Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) pediram um freio
de arrumação.
A Folha ouviu descrições da conversa segundo as
quais o risco de perda de apoio entre a ala militar foi comentado.
Outras, contudo, descartaram tom alarmista nesse sentido.
Dois itens constantes do cardápio da crise levaram à subida de tom. O primeiro foi a divulgação dos áudios trocados por Bolsonaro e o ex-ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral).
O fato de o presidente estar exposto e, pior, a possibilidade de
haver gravações de fato comprometedoras, é considerado um desastre.
Como a crise começou em uma questão partidária, o laranjal do PSL,
os generais atribuem ao papel de Carlos, filho do presidente que
disparou o episódio que levou à demissão de Bebianno ao dizer que ele
havia mentido, a chegada dela à sala de Bolsonaro.
Há aqui uma questão de ocupação de espaço. Os militares nunca
aceitaram o que consideram intromissão dos filhos políticos do
presidente em assuntos de Estado.
Assim, a confusão do caso Bebianno foi uma oportunidade para levar a
cobrança de afastamento dos filhos de forma mais incisiva, e não
indiretamente, como antes.
Com efeito, os dois mais ativos, o vereador carioca pelo PSC Carlos e
o deputado federal Eduardo (PSL-SP), têm sido comedidos no tom desde a
eclosão da crise.
Numa nota lateral, os militares também não gostaram de ver o papel
que foi reservado a um general da ativa, Otávio do Rêgo Barros, na
crise.
Porta-voz de Bolsonaro, na segunda (18) ele teve de engolir a seco e
dizer que os motivos para a demissão de um ministro de Estado eram
decisão de "foro íntimo do nosso presidente". Sua maior assertividade nesta terça (19) foi notada por observadores.
O outro ponto nevrálgico do dia foi a derrota fragorosa do governo na Câmara, que derrubou decreto presidencial que ampliou o número de pessoas com direito a decretar sigilo de documentos.
Aqui, a desarticulação completa de uma base governista possibilitou,
na visão da ala militar, o recado do Congresso: os parlamentares querem
participar das discussões que importam, a começar pela da reforma
previdenciária.
A preocupação dos fardados, que não formam um bloco monolítico mas
têm interesses comuns, é que a reforma degringole ao encontrar uma
Câmara sem comando.
Alguns deputados governistas vinham apostando que isso seria uma
vantagem, facilitando o encaminhamento da agenda de Bolsonaro, mas a
derrota de mesmo o fatiamento do pacote anticrime de Sergio Moro (Justiça) mostraram que a realidade é diferente.
No papel, Santos Cruz deveria trabalhar nessa articulação, mas o
espaço no Planalto está ocupado pelo chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni.
Com a queda de Bebianno e assunção de um general que era seu número
dois, Floriano Peixoto, Onyx está isolado e sob pressão por resultados.
O fato de que o ministro não toca na mesma orquestra de seu
correligionário Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, não ajuda
Onyx.
Aqui é incerto qual seria o encaminhamento do caso pelos militares,
dado que eles também temem ser responsabilizados por fracassos.
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