PALOCCI VOLTA ACUSAR LULA
Ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci – Arquivo/Agência Brasil
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci afirmou nesta segunda-feira
(18), em depoimento à Justiça Federal, que o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva combinou o recebimento de propinas em uma negociação para a
compra de helicópteros e submarinos da França.
Segundo Palocci, os desvios teriam sido combinados diretamente com o
então presidente francês Nicolas Sarkozy, numa reunião que varou a
madrugada quando este visitou o Brasil, em 7 de setembro de 2009.
“Ali se tratava da compra dos aviões caça, dos helicópteros e dos
submarinos para a Marinha. Sobre os submarinos e os helicópteros, eu
conheço várias situações de ilícitos”, disse Palocci, que foi ministro
da Fazenda de Lula entre janeiro de 2003 e março de 2006.
Contudo, Palocci negou saber de irregularidades sobre a compra de
caças da França ou da Suécia, que é o alvo específico da ação penal na
qual o ex-ministro prestou depoimento nesta segunda-feira (18). O
processo tem o ex-presidente Lula e seu filho Luiz Cláudio como réus.
“Ali se tratou de ilícito sim, o que ficou substanciado depois no
pagamento de propina no projeto dos submarinos, igualmente com pagamento
de propina no projeto dos helicópteros. Agora, os caças em particular
houve uma mudança no projeto do governo, então não sei o que aconteceu”,
disse Palocci.
O ex-ministro da Fazenda prestou depoimento ao juiz Vallisney de
Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, responsável pela ação
penal, uma das que Lula responde no âmbito da Operação Zelotes.
A oitiva, que chegou a ser suspensa pelo Tribunal Regional Federal da
1ª Região (TRF1), foi convocada pelo juiz federal após surgirem relatos
na imprensa de que Palocci, em colaboração premiada no âmbito da
Operação Greenfield, teria delatado Lula em relação aos caças.
Indagado pelo Ministério Público Federal (MPF), Palocci voltou a
relatar ter conhecimento sobre o recebimento de propina por Lula, em
benefício de seu filho Luiz Cláudio, em troca da edição de medida
provisória que garantiu benefícios a montadoras de veículos.
A Operação Zelotes apura um suposto esquema ilícito na aprovação das
medidas provisórias 471/2009 e 627/2012, que tratam dos benefícios às
montadoras. “Dizer que essa MP [671] não teve ilícito é não conhecer o
funcionamento do Brasil”, disse Palocci.
Nelson Jobim
Também ouvido nesta segunda-feira (18), o ex-ministro da Defesa
Nelson Jobim voltou negar qualquer ilícito nas negociações de
equipamentos militares com a França. Ele relatou estar presente na
reunião sobre o assunto por ocasião da visita de Sarkozy ao Brasil, e
que não houve nenhuma irregularidade nas tratativas.
“No jantar foi tratado de preço. Não houve absolutamente nenhuma
pretensão de propina ou coisa do tipo”, disse Jobim, que foi reconvocado
pela Justiça a prestar novo depoimento na ação penal após as revelações
feitas por Palocci.
Jobim reafirmou que Lula não teve participação direta nas negociações
com a França. “Houve um entendimento com o presidente Lula que os
assuntos seriam tratados diretamente por mim e só por mim”, disse o
ex-ministro da Defesa.
Defesa
Durante o depoimento desta segunda-feira (18), o advogado Cristiano
Zanin, que representa Lula, disse que, por ter firmado acordo de delação
premiada com o MPF, cujo teor é sigiloso, Palocci não pode ser
considerado uma testemunha com “isenção de ânimo”.
Questionado por Zanin se teve acesso ao documento assinado na reunião
entre Sarkozy e Lula, Palocci negou ter lido o termo. O ex-ministro da
Fazenda disse que soube do que foi tratado na reunião somente através do
próprio Lula, mas acrescentou não haver outros presentes na conversa.
“Discussão de propina não tem testemunha”, afirmou.
Palocci foi condenado no âmbito da Operação Lava Jato por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro, tendo a pena sendo fixada em 9 anos e 10
dias de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF4). Ele
ficou preso preventivamente na Superintendência da Polícia Federal em
Curitiba do fim de 2016 até novembro do ano passado, quando obteve o
direito de prisão domiciliar.
Agência Brasil
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