MINISTRO MARCO AURÉLIO FALOU SOBRE TROCA DE COLABORAÇÕES ENTRE MORO E DALLAGNOL
Folha
O ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal),
disse neste domingo (9) que a troca de colaborações entre o ex-juiz
Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, vista em mensagens publicadas pelo site Intercept Brasil, põe em xeque a equidistância da Justiça.
"Apenas coloca em dúvida, principalmente ao olhar do leigo, a
equidistância do órgão julgador, que tem ser absoluta. Agora, as
consequências, eu não sei. Temos que aguardar", afirmou o magistrado.
"Isso [relação do juiz e procurador] tem que ser tratado no processo,
com ampla publicidade. De forma pública, com absoluta transparência",
acrescentou.
Marco Aurélio evitou, no entanto, comentar detalhes do caso. Ele
disse que é preciso aguardar para analisar se as revelações terão alguma
interferência na Operação Lava Jato.
O conteúdo divulgado neste domingo expõe como Moro sugeriu ao
MPF (Ministério Público Federal) trocar a ordem de fases da Lava Jato,
cobrou a realização de novas operações, deu conselhos e pistas e
antecipou ao menos uma decisão judicial.
Moro, em nota, negou que haja no material revelado "qualquer anormalidade ou direcionamento" da
sua atuação como juiz. Ele deixou a carreira na magistratura em
novembro, quando aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro (PSL)
para ser ministro da Justiça e da Segurança Pública.
Após a publicação da reportagem, a equipe de procuradores da operação
divulgou nota chamando a revelação das mensagens de "ataque criminoso à
Lava Jato" e disse que o caso põe em risco a segurança dos integrantes do órgão.
Entre as mensagens que vieram a público, estão conversas de
procuradores do MPF reagindo com indignação à decisão do STF de
autorizar a Folha a entrevistar Lula pouco antes do primeiro turno da eleição de 2018. Depois de idas e vindas na corte, o caso teria desfecho apenas neste ano —o jornal só recebeu permissão para falar com o petista em abril.
Segundo o Intercept, o procurador Athayde Ribeiro Costa sugeriu na
época que a Polícia Federal adotasse uma manobra para adiar a entrevista
para depois da eleição, sem deixar de cumprir a decisão da Justiça.
A procuradora Laura Tessler fez referência aos ministros do
Supremo: "Que piada!!! Revoltante!!! Lá vai o cara fazer palanque na
cadeia. Um verdadeiro circo. E depois de Mônica Bergamo [colunista da Folha], pela isonomia, devem vir tantos outros jornalistas… e a gente aqui fica só fazendo papel de palhaço com um Supremo desse…".
"Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!", respondeu a procuradora Isabel Groba.
Tessler, na sequência, afirmou: "Sei lá…mas uma coletiva antes do
segundo turno pode eleger o Haddad", referindo-se ao candidato que
substituiu Lula na campanha do PT ao Planalto.
O ex-presidenciável Fernando Haddad escreveu neste
domingo em uma rede social que a situação exposta pela reportagem deve
ser apurada, para que se esclareça o que ele chamou de farsa.
"Podemos estar diante do maior escândalo institucional da história da
República. Muitos seriam presos, processos teriam que ser anulados e
uma grande farsa seria revelada ao mundo. Vamos acompanhar com toda
cautela, mas não podemos nos deter. Que se apure toda a verdade!",
afirmou Haddad.
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