COLUNA DO JORNALISTA TÚLIO LEMOS DO JORNAL DE HOJE

Os programas eleitorais começam a mudar o tom e passam também a expor críticas aos adversários. Nada mais natural do que isso no jogo democrático. Quem é contra crítica ou denúncia em período eleitoral, é adepto da ditadura. Tentam confundir crítica e denúncia verdadeiras com baixaria. Situações absolutamente distintas.
BAIXARIA
A baixaria em campanha eleitoral é repudiada pelo eleitorado, que não admite situações pessoais ou inverdades sendo utilizadas por candidatos contra seus adversários. As críticas e denúncias são diferentes e estão presente em todas as campanhas eleitorais; aqui e no mundo inteiro livre.
SEGURO
Em todas as campanhas, há candidatos, cujo passado é questionável, que tentam tirar carta de seguro diante do eleitor, dizendo que vai fazer uma campanha sem baixaria, sem agressão e somente com propostas. Eleitor quer ouvir proposta, mas de candidato que tenha passado limpo e que possa efetivamente cumprir o que promete.
FICÇÃO
Imaginemos um candidato milionário, que ficou rico à custa de roubalheira ou do tráfico de drogas, contrata marqueteiros caríssimos e talentosos, que pintam sua imagem como se fosse um grande combatente da corrupção e do narcotráfico. Para ilustrar, apresenta depoimentos de pessoas (bem pagas) dizendo que o homem é o melhor.
FICÇÃO II
Caso não haja nenhum adversário que tenha a coragem de combater as mentiras ditas pelo candidato, relembrando seu passado de falcatruas e safadeza com dinheiro público e privado, a imagem que vai permanecer na mente do eleitorado durante toda a campanha, é a que foi ‘construída’ de forma muito bonita, pelo marketing eleitoral.
REALIDADE
Portanto, o marketing é pago para fazer um filme de seu candidato, em que o protagonista é mostrado como autor de grandes e positivas façanhas. Não cabe ao marketing de um candidato, expor suas fragilidades, suas deficiências ou mesmo seu passado negativo. Isso cabe aos adversários. Porém, sem mentir, inventar ou deturpar.
ESCÂNDALOS
Para os ‘entendidos’ que acham não funcionar a apresentação de escândalos ou do passado de candidatos, relembremos apenas pequenos episódios de campanhas recentes.
ROSEANA SARNEY
A sucessora praticamente imbatível de Fernando Henrique era Roseana Sarney, que vinha crescendo rapidamente nas pesquisas. A foto de um monte de dinheiro apreendido no escritório do marido dela, sem origem declarada, fez a filha de Sarney despencar nas pesquisas e ficou fora da sucessão presidencial.
CIRO GOMES
Candidato novo, bem articulado e com discurso moderno e seguro, Ciro Gomes caminhava para ir ao segundo turno da eleição presidencial. Resgataram um ‘destempero’ verbal do cearense numa entrevista de rádio em que ele chamou o ouvinte de ‘burro’ aos berros. Depois, perguntaram ao ‘equilibrado’ candidato, que papel teria a mulher dele, a atriz Patrícia Pillar. Ele respondeu que o papel a ser desempenhado pela esposa era na cama. Queda livre na campanha.
CASOS MENORES
Além de casos de candidatos que estavam prestes a liderar uma campanha para presidente da República, há outros em que nomes foram abatidos bem antes, vítimas de denúncias de adversários ou de matérias na imprensa.
VÍTIMA
Trazendo o caso aqui para o RN, o deputado Henrique Alves foi vítima de uma situação como essa. Candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, o filho de Aluízio foi abatido por uma matéria de capa da revista Istoé, em que havia denúncia de sua ex-mulher, afirmando que Henrique teria mais de 15 milhões de dólares no exterior.
VÍTIMA II
O comando da campanha não esperou nem o desmentido de Henrique, que foi imediatamente substituído pela então deputada Rita Camata. O efeito Istoé tirou Henrique da eleição presidencial e o estrago também não permitiu que ele fosse candidato a governador do RN, tarefa que coube a Fernando Freire. Henrique foi reeleito deputado federal.
PERMISSÃO
O uso de material negativo do adversário é também permitido pela Justiça Eleitoral. Magistrados responsáveis pela propaganda no RN já concederam entrevistas afirmando que está liberado o uso de críticas ou denúncias. A ressalva é necessária: Desde que o material seja verdadeiro.
VERDADE
Usar algo contra o adversário que não seja verdadeiro, tem um efeito devastador na própria campanha que usou do expediente inaceitável. A verdade deve ser o alicerce de tudo, sob pena de revolta do eleitor que estaria sendo enganado e levado a acreditar em algo falso.
DISPOSIÇÃO
Entrevistado na REDE TV RN, o Juiz Marco Bruno disse que um candidato que não suporta falar de seu passado ou de responder críticas até inconvenientes, não deveria nem ter sido candidato. Ou seja: Candidato, principalmente a cargo majoritário, tem que ir preparado para tudo. Se tem medo do passado, não tem segurança no presente e não pode garantir nada para o futuro.
TÁTICA
O deputado Henrique Alves usa uma estratégia inteligente para atacar seu adversário Robinson Faria. Primeiro, o equipara aos demais adversários, diminuindo naturalmente sua importância na disputa, já que os demais candidatos não somam, juntos, nem 10% das intenções de votos.
TÁTICA II
A segunda parte da tática de Henrique é dizer tudo que quer sobre seu adversário e ressaltar que não vai dizer, apesar de já ter dito. Reforça as críticas contra o adversário, mas ressalta novamente que o “o povo não quer saber disso, o povo quer ouvir propostas”. Fica a impressão que ele não atacou o adversário e que tem apenas um discurso propositivo. Um verdadeiro Pelé da política.

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