O LEILÃO DO CENTRÃO
Na semana passada aconteceu o leilão do centrão, bloco parlamentar
que, em sua encarnação atual, compreende o DEM, o PP, o PRB, o
Solidariedade e, dependendo do dia da semana, o PR.
Para entender o centrão, pense no seguinte: nas últimas décadas,
houve alternância de quem ia no Congresso subornar deputados: às vezes
era o PT, às vezes era o PSDB. Mas quem recebia o suborno era sempre a
mesma turma, o centrão. Só o MDB, que está em um nível de
profissionalismo muito acima dessa turma toda, é que já esteve dos dois
lados.
Com exceção de Marina Silva, todos os principais candidatos à
Presidência disputaram o centrão, ou pedaços dele: Bolsonaro, Ciro,
Lula, Alckmin, todo mundo fez seu lance no leilão.
Não, não é porque todos esses presidenciáveis gostem da companhia de
corruptos. Como disse na coluna da semana passada, essa eleição
acontecerá enquanto a Lava Jato está no meio: nenhum dos acusados está
inelegível (fora o Lula). Enquanto não estiverem, ainda têm poder,
estrutura de campanha, apoios empresariais, tempo de TV. Os
presidenciáveis precisam disso tudo.
O pré-candidato à Presidência da república Geraldo Alckmin (PSDB) - Pedro Ladeira /Folhapress
O leilão do centrão foi bastante instrutivo, e cada um dos participantes aprendeu uma coisa diferente.
Bolsonaro aprendeu a falta que faz ter um partido.
Jair perdeu o centrão quando
se negou a fazer aliança com o PR no Rio de Janeiro. Se tivesse aceito,
talvez o partido de Bolsonaro (o PSL) elegesse um ou dois deputados a
menos, e o PR, um ou dois deputados a mais. O bolsonarismo não tem
organização sequer para sacrificar esses dois sujeitos e prometer-lhes
compensação em caso de vitória na eleição presidencial. Um partido
teria.
O PT aprendeu que a estratégia de insistir na candidatura de Lula dificulta muito
atrair aliados. Por que o centrão se aliaria a uma chapa que ninguém
sabe qual vai ser? Nem mesmo os aliados tradicionais de esquerda
fecharam com Lula até agora. O PT ainda acha que manter Lula no centro
do debate compensa esse preço pago em aliados perdidos. Veremos.
Ciro Gomes aprendeu que a bagunça do sistema político brasileiro tem lado.
Ciro teria ganho muito com uma aliança com o DEM. Além do tempo de
TV, adquiriria lastro conservador suficiente para justificar uma
moderação de seu discurso. Mas Ciro, que precisava também atrair votos
de Lula, exagerou no discurso de esquerda nos últimos meses, e o centrão
não gostou. Não, o centrão não é só fisiologismo: por ideologia ou por
vontade de ir em festa de rico, o centrão é de direita, desde sua origem
na Constituinte.
Alckmin, que tem partido, tem chapa pronta, e é de direita, venceu o leilão.
Foi uma vitória fundamental. Se o PSDB não tivesse vencido essa,
estaria fora do páreo. Se esse tempo de TV não tivesse ido para
Alckmin, teria ido a seus adversários diretos na
disputa por uma vaga no segundo turno. Foi um jogo de seis pontos
contra Bolsonaro, e o tucano venceu. A Bolsa de Valores, que gosta de
Alckmin, subiu.
E agora começa o aprendizado de Alckmin, da Bolsa, de todos nós. Nos
próximos meses, descobriremos se, afinal, isso tudo que sempre ajudou a
decidir eleição no Brasil –tempo de TV, estrutura partidária, dinheiro
para campanha– continua funcionando do mesmo jeito em 2018.
Pois durante todo o leilão da semana passada, ninguém sabia o quanto, exatamente, o centrão ainda valia.
Celso Rocha de Barros
Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
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