NEY LOPES ANALISA ELEIÇÕES
Restam poucos dias para o segundo turno definir os rumos das eleições
gerais, sem precedentes na história, em matéria de polarização e
extremismos. Analisar o que acontece é complexo, embora algumas
evidências saltem aos olhos.
Em disputa no RN, Carlos Eduardo e Fátima Bezerra. Dois candidatos
com perfis distintos para o exercício do mandato de Governador.
O primeiro, com história política de inconformismo. No passado,
aliou-se à Vilma de Faria, então militante do PSB do governador Miguel
Arraes (PSB) e discordou da própria família. Administrou Natal em vários
mandatos, com índices de inegável eficiência administrativa.
Fátima Bezerra, uma “self-made woman” (mulher independente).
Vinda da Paraíba exerceu liderança sindical e ingressou na política,
com base ideológica de esquerda radical. Na atual campanha tenta
mudar. Apresenta-se com suavidade e propaga fidelidade ao petismo. Caso
ganhe e Haddad perca a eleição, ela teria sérias dificuldades para
governar um estado em crise aguda, que não sobreviverá sem o auxílio da União.
Público e notório que o RN está na UTI, colocado em 23°
lugar no “Ranking de Eficiência da Federação brasileira”, o único estado
nordestino a encerrar o ano, com as contas no vermelho (R$ 1.3 bi).
Inúmeros desafios aguardam o vitorioso na eleição: necessidade de
ajuste fiscal rigoroso; “caixa único”, que coloca o Executivo como
“mendigo”, sem meios de pagar o funcionalismo; crise da violência;
futuro da UERN; serviços básicos de saúde e educação; geração de
empregos; privatizações etc. O Ceará é o inverso e mostra eficiente
política de desenvolvimento. Em 2017 captou investimentos estrangeiros,
no valor de US$ 235,804 milhões. Enquanto isso, no RN “o bicho comeu” a
propalada fábrica chinesa de placas fotovoltaicas. (???).
Do ponto de vista político-eleitoral, o segundo turno estadual
transcorrerá em cenário devastado, com as lideranças tradicionais
derrotadas e políticos da direita rural, saltitando para a esquerda, por
mero oportunismo. A previsão é disputa acirrada, com tendência de
crescimento para Carlos Eduardo, segundo a última pesquisa da FIERN.
Na sucessão presidencial, a tendência será a eleição de Bolsonaro,
salvo fato imprevisível. Alguns aspectos sócio-políticos chamam a
atenção do processo eleitoral, a começar pela implosão dos debates na
TV, que tanta influência tiveram no passado. O eleitor vota sem conhecer
os candidatos, movido por impulsos emocionais. O uso exagerado do “fake
News” falsificou imagens, criou falsas versões e profanou símbolos para
chocar a classe média.
Essa ferramenta nociva nasceu com a empresa “Cambridge Analytica”,
de propriedade do milionário Robert Mercer, financiador de Donald Trump
e incentivador da chamada direita alternativa dos Estados Unidos.
Partidos como MDB, DEM e PSDB definharam nas urnas. Na composição do
novo Congresso, a esquerda manteve os espaços e a extrema direita saiu
mais forte. O centro encolheu.
Trinta partidos terão representantes na Câmara, na maior fragmentação
parlamentar da história. Das 35 legendas existentes, ficaram de fora
PRTB, PSTU, PCO, PCB e PMB.
Doze siglas não atenderam as exigências para ter tempo de TV, rádio e
fundo partidário (Rede, PCdoB, PRP, PMN, PTC, PPL, DC, PRTB, PMB, PCB,
PSTU e PCO). A lei permite que os 32 eleitos por esses partidos procurem
novas legendas, sem penalidade.
A surpresa foi o PSL, do candidato Jair Bolsonaro, que se assemelha ao PRN de Collor.
Na redemocratização (1990), o PRN não tinha representantes no
Congresso. A vitória de Collor garantiu 40 deputados e 5 senadores.
Em 2018, o PSL elegeu 52 deputados federais e com o PT formará as
duas maiores bancadas, com cerca de um décimo das 513 cadeiras,
dificultando a formação de alianças para o futuro presidente.
Há semelhanças entre as eleições de 1989 e 2018. Collor navegou na
impopularidade de Sarney e Bolsonaro na de Temer, no primeiro turno. Em
ambas as disputas, a adesão dos eleitores não foi a partidos, mas ao
discurso “salvacionista”.
O PT também agiu assim em 2002, ao apresentar Lula como “salvador da Pátria” e a sigla “Paz e Amor”.
Nesse contexto é aguardar as urnas falarem. Até porque, em matéria de
previsão política, sempre prevalece à cautela daquele jogador de
futebol, que “só gostava de dá palpite, quando o jogo terminava”!
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