INVESTIGAÇÃO MOSTRA PLANO DO PCC PARA SEQUESTRAR MORO
Os muros de 3 metros de altura impediam que quem estivesse do lado de fora observasse o que se passava dentro da chácara. As serpentinas de arame farpado desestimulariam qualquer aventureiro a entrar sem ser convidado ou alguém a fugir sem passar por um portão de ferro, o único acesso. A privacidade era garantida. O lugar é cercado por uma densa vegetação, o vizinho mais próximo, uma senhora de quase 80 anos, está a mais de 200 metros de distância. A propriedade fica a 48 quilômetros de Curitiba e a única maneira de chegar lá é dirigindo 18 quilômetros por uma estrada de terra sem nenhum movimento. A casa principal não tem móveis nem telefone.
A única coisa inconveniente era a presença de câmeras de segurança com as quais o proprietário gravava o que acontecia do lado de dentro e podia dar uma espiada para conferir se estava tudo sob controle. Esse foi o local escolhido pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para servir de cativeiro do hoje senador Sergio Moro, que, graças a um imprevisto, escapou do sequestro e provavelmente da morte na mais ousada ação planejada pelo grupo desde que ele foi criado, há trinta anos.
A revista Veja teve acesso teve acesso à investigação. Os documentos revelam o nível de sofisticação do PCC, que, segundo os especialistas, já é considerado uma das três maiores e mais bem estruturadas organizações mafiosas do planeta. O caso do sequestro do senador é o exemplo mais bem-acabado dessa mudança de patamar.
Em poucos dias, os criminosos mobilizaram gente, um arsenal, carros e muito dinheiro para financiar uma operação. A ação, abortada pela Polícia Federal, tinha o objetivo de trocar a vida de Moro pela transferência de Marcos Camacho, o Marcola, líder da organização, que está preso na penitenciária federal de segurança máxima de Brasília. A provável execução do ex-juiz da Lava-Jato seria uma demonstração de força e poder.
O processo tem mais de 6 000 páginas e mostra que a vida do ex-juiz foi salva pelo acaso. O plano do PCC era sequestrar Moro no dia 30 de outubro. O plano era apanhá-lo no instante em que ele deixasse o local de votação. A escolha do cativeiro foi o último movimento da quadrilha. Uma mulher procurou a dona da chácara por meio de um aplicativo de mensagens e ofereceu pagar dez diárias.
A locatária, que havia se identificado como Luana, exigiu que o pagamento fosse feito exclusivamente em dinheiro vivo e que ninguém, absolutamente ninguém, aparecesse no imóvel enquanto ela e seus hóspedes estivessem no local. Tudo no enredo parecia estranho — e era. No dia seguinte à ocupação da casa, as câmeras de segurança foram subitamente desligadas, e a central de armazenamento das imagens, instalada em um poste a 5 metros de altura, desapareceu.
O grupo que sequestraria o ex-ministro havia montado uma espécie de base de operações num apartamento alugado em Curitiba, a 42 quilômetros do cativeiro. Foi onde aconteceu o imprevisto que salvou a vida de Sergio Moro. O entra e sai de pessoas e carros diferentes chamou a atenção de alguns moradores, que acionaram a imobiliária, que decidiu checar mais uma vez a documentação dos novos inquilinos. Na cédula de identidade de um deles, a cidade paranaense de Cascavel aparecia como localizada no estado de São Paulo. Era um indício de que a identidade era falsa. A empresa entrou em contato com o locatário, um membro do PCC, e ameaçou acionar a polícia. Os bandidos abandonaram o imóvel e abortaram a missão. O plano do sequestro foi retomado ainda em novembro. Mais de quarenta dias após a primeira tentativa de rapto do senador, um relatório completo chegou às mãos do chefe do bando. Outra vez, o ex-juiz foi salvo por uma circunstância. Ameaçado de morte, um antigo integrante da alta cúpula da facção procurou o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), pediu proteção e ofereceu informações em troca.
A partir desses dados, foi possível descobrir que o ex-juiz da Lava-Jato começou a ser monitorado pelo PCC ainda em maio de 2022, quando células da facção em Curitiba, São José dos Pinhais (PR), São Paulo e Sumaré (SP) deram início ao levantamento de informações sobre sua rotina.
Com informações de Veja
Fonte: Portal Grande Ponto
Comentários
Postar um comentário