DESEMBARGADORES ENVOLVIDOS NO ESCÂNDALO DOS PRECATÓRIOS
Do Novo Jornal
PIVÔ DO ESCÂNDALO dos precatórios no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, Carla Ubarana usou o tempo ocioso na prisão para ocupar a mente. Autora de um livro de auto-ajuda onde relata, entre outras coisas, experiências de viagens à Europa, a ex-chefe da divisão de precatórios do TJ será mais ousada na segunda obra.
Não é exagero dizer que Ubarana tem em mãos um best-seller. Se de ficção ou realidade, é a Justiça quem vai dizer.
Na cadeia, Carla escreveu um diário contando sua versão, com detalhes, de como o maior esquema de corrupção da história do TJ foi armado. Segundo ela, tudo aconteceu com a conivência de desembargadores e juízes.
O NOVO JORNAL teve acesso aos escritos de Carla Ubarana e revela o conteúdo legível do texto.
Dos nomes envolvidos ao modus operandi do crime. Além das anotações pessoais, o diário também traz troca de correspondências entre ela e o marido na cadeia.
Essa é a versão da principal suspeita, para o Ministério Público, de liderar uma quadrilha que desviava dinheiro público no Tribunal. Irônicamente, cabe agora à Justiça dizer quem fala a verdade nessa história.
Em um texto com vários erros de português, a ex-chefe da divisão de precatórios do TJ dá o nome dos desembargadores Osvaldo Cruz, Rafael Godeiro e Judite Nunes como sendo os que sabiam do esquema e dividiam a verba que deveria ser paga aos beneficiários dos precatórios. “Os desembargadores envolvidos citar nome: Oswaldo, Rafael e Judite Nunes”, escreveu.
Numa das páginas ela conta a forma dos pagamentos aos magistrados. “Osvaldo pagamento com cheque, Rafael pagamento com guias e Judite pagamento com guias”, citou.
Os três presidiram o Tribunal durante o tempo em que Ubarana dirigiu o setor de precatórios da instituição. Carla chefi ou a divisão de 2007 a janeiro de 2012, quando foi exonerada sob suspeita de corrupção. Servidora efetiva do TJ, ela foi nomeada pelo desembargador e então presidente do Tribunal, Osvaldo Cruz, e mantida pelos sucessores Rafael Godeiro e Judite Nunes.
Hoje, a partir das 8h30, Carla Ubarana e o marido, o empresário George Leal, serão ouvidos pelo juiz da 7ª Vara Criminal, José Armando Pontes. Essa é a primeira vez que o casal vai falar em juízo.
Semana passada, Carla fez um acordo com o Ministério Público se comprometendo a colaborar com as investigações desde que tivesse direito ao benefício da delação premiada.
A expectativa é para saber se ela irá reiterar todo o conteúdo presente nos manuscritos da prisão, além do que foi revelado aos promotores de justiça do Patrimônio Público. Desde que aceitou colaborar, Carla e George es ão em prisão domiciliar, na casa onde moram com os filhos, em Petrópolis.
Nos manuscritos, Carla Ubarana fala sobre a participação dos magistrados e comenta a divisão do dinheiro. Segundo ela, o ex-presidente do TJ, Osvaldo Cruz, assinava os cheques. “O presidente Osvaldo assinava o cheque, nós depositávamos em nossa conta, sacava e depois dividia. Os valores foram crescentes até porque chegou dinheiro de RPV (Requisição de Pequeno Valor) e muito dinheiro sem dono”, disse.
Em outro trecho, ela diz que o desembargador Rafael Godeiro não queria nem saber quem eram os beneficiados dos precatórios. “(o juiz) Luiz Alberto (Dantas) mandou voltar o processo no intuito de atrasar e Rafael Godeiro, ciente de como funcionava, recebia o dele em mãos após sacar em guias, todas assinadas por Rafael Godeiro e por (trecho ilegível).
Não queriam nem saber quem seria beneficiado, o que importava era o fim, como ao banco só interessava o beneficiário”, escreveu.
Sobre a desembargadora e atual presidente do TJ, Judite Nunes, a ex-chefe dos precatórios a acusa de omissão. “Houve omissão de Judite nas guias que ela mandava assinar em branco para ‘quando’ fosse necessário”, afi rma antes de chamar Judite de negligente. “Negligente quanto aos 12 processos do TRT.
Um ano se passou e ela nunca atendeu o presidente para lhe dar respostas ou tomar providências com relação aos (ilegível) do TRT”, disse.
Além da participação do trio de ex-presidentes, Ubarana também envolve parentes de outros desembargadores. Numa das páginas ela escreveu que ‘esposo da desembargadora Zeneide (Bezerra) solicita pagamento do mesmo precatório 2 x”, citou.
Em outra passagem do manuscrito, Ubarana também explicou o modus operandi da fraude. “O que fazíamos era comprar e vender. Em janeiro, eu sabia que o dinheiro do estado ia começar em junho, então, seguindo a ordem cronológica, por exemplo, o primeiro valia R$ 140 mil, oferecíamos por este, em janeiro, R$ 40 mil e em julho a planilha normal de 140. 100 seria o ganho líquido”, afirma.
No relato que fez enquanto passou 28 dias na ala feminina da penitenciária João Chaves, Carla Ubarana também revela, mesmo sem citar nomes, que juizes mandavam o mesmo precatório duas e três vezes para pagar. Um advogado também cobrava duas vezes o mesmo (precatório) e confirmava que não tinha recebido.
fone: Laurita Arruda
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