PESQUISA PRESIDENCIAL PARA 2022
MANOBRAS – Doria com o neotucano Alexandre Frota: estratégia para aumentar o número de aliados do PSDB (Gabriela Biló/Estadão Conteúdo)
Bastou apenas meio ano no Palácio do Planalto para Jair Bolsonaro se
lançar candidato a um novo mandato, contrariando a promessa de campanha
de não disputar a reeleição. Com quase oito meses no cargo, o presidente
mantém sua estratégia: cultivar a polarização com o PT e adotar um
clima de palanque permanente. Os números mostram que tal postura vem
dando certo até aqui. De acordo com o capítulo da pesquisa VEJA/FSB
dedicado aos cenários para 2022, Bolsonaro vence em todas as simulações
que testam seu nome.
Ele tem 35% das preferências no primeiro turno em relação a Fernando
Haddad (PT, 17%), Ciro Gomes (PDT, 11%), Luciano Huck (sem partido,
11%), João Amoêdo (Novo, 5%) e João Doria (PSDB, 3%). O resultado
reflete o chamado “recall” da recente disputa eleitoral — os três mais
bem colocados no primeiro turno de 2018 ocupam, na mesma ordem, as
primeiras posições no levantamento. Nas projeções de segundo turno,
Bolsonaro confirma o favoritismo em relação a Haddad (48% a 35%) e
também quando o adversário é Doria (45% a 29%). “O presidente está
ganhando o terceiro turno. Bolsonaro alimenta relações políticas
turbulentas enquanto mantém um casamento estável com seu eleitorado”,
diz o cientista político Antonio Lavareda.
Um nome que poderia ofuscá-lo como candidato da situação a 2022, o
ministro Sergio Moro, aparece bem no cenário em que substitui o
presidente, liderando com 27%. Apesar disso, não repete o desempenho do
chefe, ficando 8 pontos abaixo — e perdendo para o somatório de votos de
candidatos mais à esquerda, como Ciro Gomes e Fernando Haddad. Outro
destaque é Luciano Huck. Nos dois cenários testados, com Bolsonaro e sem
o presidente, o apresentador recebe entre 11% e 13% das intenções de
voto, respectivamente, em um desempenho bem melhor que o de nomes como
Doria e João Amoêdo. Por ora, Huck não pretende entrar na disputa, como
considerou fazer em 2018. Mas continua engajado no movimento de
renovação política Agora! e discutindo os problemas brasileiros em
palestras pelo país. Recentemente, afirmou que o governo Bolsonaro é “o
último capítulo do que não deu certo”. Cinco dias depois, viu o nome de
uma de suas empresas na lista das que tomaram dinheiro emprestado do
BNDES para comprar jatinhos. Cruzamento feito pela FSB entre os
resultados da pesquisa de primeiro turno e votos dados por eleitores a
Bolsonaro em 2018 mostra que Huck é o candidato que mais incomoda o
presidente: Bolsonaro mantém 59% de seus eleitores e perde 8% para Huck,
6% para Ciro, 5% para Amoêdo, 4% para Doria e 3% para Haddad.
Ao contrário de Huck, Doria já mexe ostensivamente suas peças mirando
2022. Em entrevista a VEJA publicada em junho, descartou disputar
reeleição estadual (sem assumir ainda que poderá ser candidato a
presidente), emplacou um preposto no comando do PSDB, atuou para atrair o
deputado Alexandre Frota às hostes tucanas e, dia sim, dia não, busca
se afastar do presidente, depois de literalmente vestir a camisa
“BolsoDoria” em 2018. Nesta semana, afirmou que “jamais” nomearia um
filho para embaixador, petardo direcionado diretamente a Bolsonaro, que,
como se sabe, está em uma cruzada para arrumar um emprego para o filho
Eduardo Bolsonaro em Washington. Apesar da movimentação, o tucano terá
muito trabalho pela frente. Último colocado nos cenários de primeiro
turno e derrotado por Bolsonaro (45% a 29%) e Haddad (37% a 33%) no
segundo, o tucano ainda não demonstra o potencial eleitoral de
governador do estado mais rico e à frente do maior colégio eleitoral do
país, mas tem campo para crescer com uma gestão que promete
privatizações e chuvas de investimentos estrangeiros. “Falta a Doria
mais projeção nacional, e o movimento de se descolar do bolsonarismo
mostra, na percepção do eleitorado de centro-direita, oportunismo”,
avalia o cientista político Rafael Cortez.
Maiores desafios terão os candidatos situados mais à esquerda.
Derrotado pelo presidente em 2018, Haddad manteve a segunda posição nas
duas simulações de primeiro turno da pesquisa FSB/VEJA. A dificuldade é
ampliar seu espectro de votos para além dos fiéis ao PT. A imagem de
corrupção associada ao partido também não ajuda. No último dia 20,
Haddad foi condenado em primeira instância pela Justiça Eleitoral pela
prática de caixa dois na campanha à prefeitura paulistana de 2012. “Será
difícil para a esquerda evoluir, especialmente se Bolsonaro entregar
algum crescimento econômico”, diz Cortez. Parece distante, mas 2022 é
logo ali.
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