JOESLEY BATISTA AFIRMOU TER REPASSADO R$ 110 MILHÕES AO SENADOR AÉCIO NEVES
Em novo depoimento prestado à Polícia Federal na quinta-feira, em Brasília, o empresário Joesley Batista afirmou ter repassado R$ 110 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB)
durante a campanha eleitoral de 2014. Segundo O GLOBO apurou com fontes
ligadas ao caso, Joesley teria confirmado que os repasses milionários
ao tucano estariam atrelados à futura atuação de Aécio em favor dos
negócios do grupo J&F. O repasse milionário teria sido dividido
pelos tucanos com outros partidos que apoiaram Aécio. Os valores já
constavam da delação da empresa, mas desta vez, para comprovar os
repasses, Joesley ainda entregou aos investigadores uma extensa planilha
de “doações” e um calhamaço de notas fiscais e recibos que comprovariam
que parte da bolada foi repassada via doações oficias e outra parte,
via caixa dois. Aécio sempre negou qualquer irregularidade nas suas
relações com o dono do grupo J&F.
O empresário Joesley Batista foi interrogado na condição de
colaborador. O depoimento de quinta-feira foi um complemento de um
interrogatório realizado no dia 26 de março, que também teve o senador
tucano como personagem. Nesta sexta-feira, o jornal “Folha de S.Paulo”
publicou detalhes de outro depoimento prestado
pelo dono da J&F, em agosto de 2017, em que Joesley revela ter pago
uma mesada de R$ 50 mil reais ao tucano, durante dois anos.
Segundo o jornal, o dinheiro teria sido repassado a Aécio por meio de
uma rádio da qual o senador era sócio. Joesley disse que os pagamentos
teriam sido solicitados diretamente pelo tucano em um encontro no Rio,
no qual Aécio disse que usaria o dinheiro para “custeio mensal de suas
despesas”. Joesley entregou aos procuradores 16 notas fiscais emitidas
entre 2015 e 2017 pela Rádio Arco Íris, afiliada da Jovem Pan em Belo
Horizonte.
No depoimento prestado na quinta-feira, cujo teor foi obtido pelo
GLOBO, Joesley detalha valores muito mais eloquentes que os R$ 50 mil da
mesada paga a Aécio. Segundo o dono do grupo J&F, os R$ 110 milhões
foram divididos entre o PSDB e dois partidos que integravam a coligação
do senador mineiro. Os tucanos teriam ficado com R$ 64 milhões. O PTB,
do ex-deputado Roberto Jefferson, teria recebido R$ 20 milhões. Já o
Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, teria levado R$ 15
milhões. O restante dos recursos teria sido dividido entre as campanhas
de políticos indicados pelo PSDB, que apoiaram a candidatura de Aécio à
Presidência da República.
Para comprovar as acusações, o empresário entregou uma extensa
planilha de “doações” e um calhamaço de notas fiscais e recibos usados
para simular prestação de serviços. O material seria ainda mais
detalhado que as provas apresentadas pelos executivos da Odebrecht.
O depoimento de Joesley foi tomado no âmbito do segundo inquérito
aberto contra o tucano em decorrência da delação dos executivos da
J&F, holding que controla a JBS. Ao todo, a defesa de Joesley
apresentou por escrito, em agosto do ano passado, à Procuradoria-Geral
da República, 32 anexos complementares que envolvem episódios já
relatados pelos delatores da empreiteira. O caso da rádio de Aécio foi
um destes episódios, sobre o qual ele depôs pela primeira vez neste ano.
Desde o começo do ano, Joesley já compareceu seis vezes para depor aos
investigadores sobre os episódios que constam em seus anexos
complementares. Seus anexos complementares não deram origem a nenhum
inquérito novo.
Segundo Joesley relatou aos investigadores, ele aceitou repassar a
bolada milionária a Aécio nas eleições de 2014, porque considerou que o
tucano “era um candidato em ascensão e, para alguns, seria o próximo
presidente da República”. Ele disse que teria feito o acordo com o
tucano quando ele surgia como o principal adversário da ex-presidente
Dilma Rousseff. Pelo acerto, os valores seriam pagos em duas etapas no
primeiro e no segundo turno das eleições.
Depois de pagar os R$ 110 milhões, Joesley disse que foi procurado
novamente pelo candidato do PSDB depois das eleições. Aécio teria pedido
mais R$ 18 milhões para cobrir dívidas da campanha. A partir daí, ficou
acertado que a transação seria mascarada com a compra de um prédio em
Belo Horizonte. O negócio seria intermediado por Flávio Jacques
Carneiro, um dos donos do jornal “Hoje Em Dia”.
A defesa de Aécio tem se esforçado para provar que o senador foi
vítima de uma armação do empresário com a intenção deliberada de obter
munição para um acordo de delação. Boa parte das acusações contra Aécio
já constam dos depoimentos da delação premiada de Joesley. A diferença é
que, desta vez, ele detalhou os repasses e apresentou documentos
adicionais para reforçar o relato.
O GLOBO
Comentários
Postar um comentário