NEY LOPES ANALISA SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES
Com incertezas, medos e ódios começa o “segundo tempo” da eleição de 2018, no RN e no Brasil.
Alguns admitem que seja nova eleição. Prefiro considerar como a continuação do primeiro turno.
Ganhará quem tenha a capacidade de atrair adesões de setores resistentes ao cenário de polarização.
Observou-se na primeira etapa do pleito, que muito mais do que ideias
e propostas, as redes sociais influíram decisivamente nas preferencias
do eleitorado, somado ao sentimento de rejeição, que se sobrepôs a
adesão ao candidato.
Os capitães Bolsonaro e Stevenson (RN) são exemplos, de que pouco
valeu o tempo de propaganda no rádio e TV. Ambos foram beneficiários do
clima emocional e rejeição à classe política, colocada como vilã de
todos os males nacionais.
No Rio Grande do Norte, Fátima e Carlos Eduardo somaram no primeiro
turno 1.274.083 sufrágios (79%), calculado sobre 1.620.544 votos válidos
no primeiro turno, excluídos abstenção (406.098), brancos (86.111) e
nulos (259.795), o que correspondeu a 54% do total do eleitorado apto a
votar no estado (2.372.548).
Considerando esse computo geral do eleitorado, 1.098.465 eleitores
(46%) não votaram em Carlos, nem em Fátima. As estatísticas mostram, que
cerca de três quartos dos eleitores votantes na primeira rodada
reafirmam o voto anterior.
Portanto, com base no resultado oficial do primeiro turno, para
ultrapassar Fátima Bezerra, o candidato Carlos Eduardo teria que
acrescentar aos seus 525.933 mil votos, mais de 222.217 mil votos, a
serem conquistados entre aqueles sufrágios dados à candidatos que não
ficaram para o segundo turno (346.461), além dos brancos, nulos e
abstenção.
Na disputa presidencial, Haddad teve 31 milhões de votos. Em tese,
para que ele ultrapasse Bolsonaro terão que ser acrescidos mais de 24
milhões de eleitores.
Note-se que cerca de 40 milhões se abstiveram, votaram em branco ou
anularam o voto, além dos 27,6 milhões que sufragaram outros nomes, que
agora estão de fora.
A conclusão é que 67,6 milhões de brasileiros definirão quem será o novo presidente brasileiro.
Ciro Gomes responde sozinho por 43% dos 87% de eleitores que não
votaram nem no PSL, nem PT, no primeiro turno. Mesmo admitindo que Ciro
transferisse 100% dos votos (o que é impossível), Haddad ainda
necessitaria de 11 milhões de votos entre os adeptos dos demais
candidatos, que obviamente poderão migrar também para Bolsonaro.
Pelo visto, o segundo turno presidencial será mais um plebiscito, do
que eleição. A democracia brasileira está ferida e a nação necessita
eleger alguém capaz de tornar-se um estadista.
Em clima de intensa emoção e radicalização, corre grave risco a estabilidade democrática do país e de suas instituições.
O sentimento nacional é de descrença na política, em função de
escândalos de corrupção e aumento da violência, o que leva ao surgimento
notório de alternativas autoritárias para a crise.
No impeachment de Dilma já se percebiam grupos favoráveis à
intervenção militar, o que se tornou público, após a greve nacional de
caminhoneiros. Essa tendência não prevaleceu pela firmeza democrática
das Forças Armadas, salvo grupos isolados que foram contidos.
A preocupação “pós segundo turno” é que o vitorioso tenha a grandeza
de buscar o diálogo, a paz social e o consenso, que possam unir o país,
sem discriminação de pessoas, ou partidos.
Infelizmente, percebem-se correntes ativas no processo eleitoral, ávidos de poder despótico, que consideram mero “blá blá blá” tais preocupações e fazem até zombaria dos valores da democracia, considerando-os inúteis e ineficazes.
Diante de tamanho risco, o STF já propõe que seja firmado um “pacto
republicano” com o futuro Presidente, seja ele quem for, para garantir a
governabilidade democrática.
Esse “pacto”, a exemplo de “Moncloa” na Espanha e “Consertácion”
no Chile, teria como objetivo a justiça social, a equidade, a superação
da pobreza, a integração regional, a plena vigência da democracia.
Não há como negar, em função da história de outros países livres, que
a mediação nacional terá que ser exercida pela classe política, ungida
pelo voto popular.
Fora desse caminho restará apenas a força, a violência e o caos
iminente, cujos mais atingidos serão fatalmente a cidadania e a
economia.
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