EQUIPE DE BOLSONARO TENTA UNIFICAR O DISCURSO
Igor Gielow - Guilherme Seto
Embalados pelo desempenho ascendente na disputa do primeiro turno, integrantes do núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) fizeram
uma reunião para lavar roupa suja e tentar unificar o discurso. Uma das
decisões foi a de tutelar o polêmico vice do presidenciável, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB).
Desde que o presidenciável foi esfaqueado, no dia 6, grupos rivais de
seu entorno buscaram protagonismo, aumentando a já notória cacofonia da
cadeia decisória do bolsonarismo.
Mourão sobressaiu-se nesse movimento, reivindicando participação em debates no lugar do candidato, só para depois retroceder.
Também cumpriu uma agenda recheada de entrevistas e palestras nos
quais algumas de suas polêmicas posições foram evidenciadas, como a
citação sobre a eventualidade de um autogolpe presidencial ou a noção de
que lares tocados por mulheres pobres são "fábricas de desajustados".
Com tudo isso, conforme a Folha adiantou, o incômodo obrigou ao realinhamento na campanha.
O general não estava presente, pois cumpria agenda em Botucatu (SP).
Ficou na linha com um colega da patente na reserva, o influente Augusto
Heleno. Ele, que vinha evitando se envolver em temas eleitorais, será a
ponte do grupo com o vice. Ressaltando ser amigo do militar, o
criticou. "Qual é a experiência política do Mourão? Ele está
engatinhando ainda. Ele fala e acha que não vai ter repercussão", disse.
O presidente do partido de Mourão, Levy Fidelix, estará totalmente
alijado dos debates internos. As palavras com que membros do entorno de
Bolsonaro se referem a ele são impublicáveis.
Com Bolsonaro fora de combate, a campanha havia perdido o ponto focal
e moderador de conflitos. Assim, entre os presentes na reunião desta
terça (18) em um flat nos Jardins (zona sul de São Paulo), estavam
rivais de disputas anteriores.
Gustavo Bebianno, o centralizador presidente interino do PSL e
advogado de Bolsonaro, foi confrontado por Eduardo, deputado filho do
presidenciável. As crises entre os dois sobre procedimentos da campanha e
sobre o papel do vice-presidente da sigla, Julian Lemos, foi um dos
pontos mais tensos da relação até aqui.
Estiveram presentes o economista Paulo Guedes; o general da reserva
Augusto Heleno; o senador Magno Malta (PR-ES); o dono do PSL Luciano
Bivar; Bebianno e Julian Lemos; o ex-presidente do PSL Antonio de Rueda;
os filhos de Bolsonaro, Eduardo e Flávio; o deputado federal Major
Olímpio (PSL-SP); o ruralista Nabhan Garcia; e o deputado federal Onyx
Lorenzoni (DEM-RS).
A expectativa agora é trazer a figura hospitalizada de Bolsonaro para
o debate eleitoral. Os presentes concordam que ele é o único ativo
eleitoral à disposição do grupo. "Somos uma equipe com um capitão. O
restante é todo de soldados", disse Eduardo.
Vídeos como o do domingo passado, no qual ele apareceu bastante
fragilizado e fez um discurso colocando a lisura das urnas eletrônicas
em suspeição, deverão acontecer novamente, mas com melhor modulação.
Não passou despercebida a reação do presidente do Supremo, Dias
Toffoli, que rebateu as insinuações de Bolsonaro. Tentando vender uma
imagem de normalidade institucional, a última coisa que o entorno do
candidato deseja é a promessa de um antagonismo de saída com o chefe do
Judiciário.
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