PT SINALIZA COM VOLTA DO RADICALIZMO
A decisão de boicotar a posse de Jair Bolsonaro exibe
muito mais do que apenas um comportamento de mau perdedor dos petistas.
O movimento do PT, feito de forma estudada, deixa claro que o partido
fará sempre oposição radical ao futuro governo. Independentemente da
proposta que estiver sob a mesa de votação, os petistas sinalizam que a
ordem foi dada: se Bolsonaro apoiar um projeto – qualquer projeto – o PT
estará do lado oposto. E isso indica que a aprovação de votações
difíceis, como a reforma da Previdência, enfrentará feroz oposição
quando forem discutidas.
Se estivessem apenas incomodados com a festa do adversário, bastava
aos petistas não aparecer em Brasília. Quem notaria ou ligaria para essa
ausência numa festa celebrada por rivais? Mas o PT fez questão de
divulgar um comunicado oficial avisando que faria o boicote. Ou seja:
era importante marcar esta posição. A ideia é rivalizar e polarizar com
Bolsonaro. Se o futuro governo não decolar, o PT estará bem posicionado
para tentar voltar ao Planalto. Se Bolsonaro for bem, segue o jogo com o
PT buscando maior protagonismo no campo da oposição.
O PT tem seus motivos para agir assim. O partido só teve bom
desempenho eleitoral no Nordeste, onde elegeu quatro governadores: Rui
Costa (BA), Fátima Bezerra (RN), Wellington Dias (PI) e Camilo Santana
(CE). Nos maiores centros, fracassou. Pior: viu crescer o desempenho de
outras forças de esquerda, como o PSOL, o PSB e, especialmente, o PDT,
liderado por Ciro Gomes. Com Lula preso e fora do Planalto, o PT decidiu
partir para uma reinvenção. E esse processo passa necessariamente pela
ocupação de espaço de principal força de oposição.
Como os petistas imaginam que o governo de Bolsonaro não vai dar
certo, a estratégia é apostar na autodestruição política do adversário e
ocupar o espaço de principal alternativa de esquerda. Por isso, até uma
simples malcriação antipática, como a do boicote à posse, passa a ser
uma decisão estratégica. O PT mira na sua reconstrução interna e externa
e parte para a adoção de um radicalismo dentro do Congresso contra
Bolsonaro. Só assim, terá alguma chance de estruturar novamente uma
campanha presidencial competitiva para buscar a retomada do poder
perdido.
Marcelo de Moraes, O Estado de S.Paulo
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