AMÉRICA 100 ANOS: BAÍCA
Em dia de Clássico Rei entre ABC e América, ninguém quer perder. E enquanto João Maria de Azevedo estivesse em campo, a torcida do Alvirrubro ficava tranquila. Mas, se o torcedor americano não reconhece esse nome, talvez o apelido Baíca e os 15 gols contra o rival façam abrir um sorriso e lembrar do tricampeonato de 87 a 89 e do bicampeonato de 91 e 92.
- Contra o ABC, se eu não jogasse, a torcida do América-RN não confiava que a gente iria ganhar, porque todo jogo eu fazia gol - disse, brincando com o recorde.
Em 2011, Baíca é homenageado pelo América-RN no Estádio Machadão (Foto: Frankie Marcone)
Além de maior artilheiro do América em Clássicos Rei, Baíca é também o jogador mais vencedor do Rio Grande do Norte, com sete títulos estaduais conquistados. E ele começou no futebol de um forma bem curiosa. Ainda em 1985, era coveiro no cemitério de Nova Descoberta e passou a jogar nas categorias de base do Alecrim a convite de um amigo. Passados apenas três jogos nos juniores, Ferdinando Teixeira, então técnico do elenco profissional do Verdão, o chamou para integrar o plantel principal, de onde não saiu mais. Foi bicampeão jogando pelo Periquito em 85 e 86, e em 87 se transferiu para o América, onde faria história.
Vestindo a camisa alvirrubra, Baíca começou a trilhar uma história de sucesso, sendo peça principal do elenco que se sagrou tricampeão estadual no período de 1987 a 1989. Ao fim do Campeonato Estadual de 89, Baíca foi emprestado ao arquirrival ABC, com os salários sendo pagos pelo Alvirrubro. Torcedor americano desde pequeno, ele não tem papas na língua ao falar do desempenho com a camisa alvinegra.
- Eu fui lá só para dar o 'migué' mesmo, passei dois meses no DM. Como torcedor americano que sou, com salários pagos pelo próprio América, você acha que eu iria me esforçar para jogar pelo rival? - brinca.
Baíca observa seu acervo particular de recortes de jornal (Foto: Klênyo Galvão/GloboEsporte.com)
Com o campeonato de 1990 indo parar na Frasqueira, Baíca ainda foi bicampeão pelo América em 91 e 92. Com tantos gols marcados em cima do rival, ele afirma que não consegue escolher um favorito, mas cita dois deles que, segundo o próprio, foram "especiais".
- Tem um que se eu não me engano foi em 89. O ABC jogava pelo empate, estava 1 a 1 e a torcida do ABC já gritava 'é campeão'. Faltando dois minutos para o fim do jogo, com a torcida do América já saindo do estádio, eu fiz o gol e a gente foi campeão. Foi um cruzamento, no gol do placar, o zagueiro esperou chegar nele a bola, mas eu antecipei e dei de bico no primeiro pau. O outro foi em 92, o gol em cima do Pedrinho, que garantiu o título do terceiro turno para nós. Estava 0 a 0 o jogo. Na trave do placar, eu recebi o passe, cortei Arimatéia, vi Pedrinho adiantado e dei por cima dele. A gente ganhou de 1 a 0, foi o gol do título - declarou.
Com tantos anos de América, o artilheiro do Clássico Rei pelo lado alvirrubro tem muitas histórias para contar. Sempre com um sorriso no rosto, ele contou, com a irreverência de sempre, algum dos causos de quando ainda era um jogador "rebelde".
- Eu não gostava de jogar em Mossoró porque era longe e muito quente. Aí quando chegava na sexta-feira eu inventava uma contusão ou dava um jeito de receber o terceiro cartão amarelo no jogo anterior só para poder não ir para lá. Teve um treino em que eu machuquei, pensando que ia passar o fim de semana em Natal, curtindo uma praia, tomando uma cerveja e tal. Quando acabou o coletivo, a gente recebeu o salário e eu pensava que iria treinar sábado de manhã e o resto do grupo viajaria e eu ficaria em Natal. Quando terminou o treino de sábado, Baltazar disse: 'Viaja todo mundo, até Baíca vai para o jogo'. Dessa vez não deu certo, mas já havia dado certo antes - conta, lembrando a vitória por 3 a 1 contra o Potiguar de Mossoró, em 91.
SOBROU PARA O SAPO
Para muitas pessoas, superstição é coisa séria e, quando se trata de futebol, muitos torcedores apelam para este "artifício" para tentar dar uma "ajudinha" para o time do coração. Nesse contexto, Baíca relembra uma história que é fruto da rivalidade entre os massagistas de ABC e América, Furão e Macarrão, respectivamente, e que tem como personagem principal um sapo.
- O massagista do América, Macarrão, era brigado com o do ABC, Furão. Em um dia de clássico no Castelão, em 87, no ano em que eu cheguei ao clube, Caiçara era o técnico e eu comecei no banco nessa partida. Foi quando eu observei que tinha um sapo do lado do nosso banco de reservas, e disse: 'Macarrão, quem colocou esse sapo aí foi Furão, para dar azar', e ele não acreditou. O ABC foi lá e fez 2 a 0. Foi quando Macarrão pegou o sapo e jogou longe, no fosso do estádio. Eu entrei no segundo tempo e empatei o jogo, 2 a 2, com dois gols meus - disse, afirmando que de fato teria sido o massagista Furão o autor da brincadeira.
Em um dos recortes guardados por Baíca, uma pequena ficha do ídolo alvirrubro (Foto: Acervo Pessoal/Baíca)
No ano de 1991, novamente Baíca e um sapo voltaram a brilhar em um Clássico Rei. Desta vez, porém, foi o próprio artilheiro que providenciou a "entrada em campo" do anfíbio. Se aproveitando do fato de que não haviam muitas câmeras presentes no campo de jogo naquela época, o atacante americano tirou vantagem do ponto fraco do goleiro alvinegro para conseguir ajudar a sua equipe a sair com a vitória.
- O ABC tinha contratado um goleiro chamado Salvino e ele tinha medo de sapo. Antes de um jogo contra eles, eu arrumei um sapo pequeno, coloquei dentro de um saco e joguei dentro do meu calção. Em um escanteio a nosso favor, enquanto a bola estava viajando, eu tirei o sapo do meu calção, joguei na pequena área e disse: 'Salvino, olha o sapo'. Salvino ficou lá dentro do gol procurando o sapo, com medo, e a gente fez 1 a 0, com Magno - revela o jogador, que afirma que o goleiro adversário ficou preocupado com a presença do sapo até o final da partida.
Além de Alecrim e América, Baíca também teve passagens por Fortaleza, Sampaio Corrêa, Vitória de Santo Antão, Botafogo-PB e Rio Ave (Portugal). Atualmente com 49 anos, Baíca é treinador do time do Sindicato dos Atletas de Futebol Profissional do Estado do Rio Grande do Norte, projeto em que jogadores que estão sem clube mantêm a forma à espera de uma transferência, e acredita que algum dia terá uma oportunidade de trabalhar dentro do América.
Na final do Potiguar 2015, Carlos Mota, Moura, Carioca e Baíca são homenageados (Foto: Augusto Gomes)
Em um ano tão especial como é o de 2015, com a comemoração do centenário do Alvirrubro, ele se considera feliz por ter tido uma passagem muito importante pelo clube, principalmente por poder ter ajudado com seus gols. Sobre o futuro do América, Baíca se mostrou otimista.
- Acho que o América vai ter muitas glórias, principalmente neste estádio novo que estão construindo, que será a casa do América. Tenho certeza que daqui para frente vai ser só alegria, começando com essa subida da Série C para a Série B esse ano. Eu estou confiante - concluiu.
GLOBO ESPORTE
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