CEARÁ: ONDA DE ATENTADOS CONTINUAM
O reforço policial, a transferência de líderes de
ataques e a prisão de 403 suspeitos até esta segunda-feira (21) não
foram capazes de cessar a onda de atentados que aterroriza o Ceará desde
o dia 2 com mais de 200 ocorrências já registradas entre incêndios e
explosões a viadutos, torres de transmissão, veículos e prédios públicos
e privados.
O UOL apurou que o poder prolongado de fogo das
facções está causando surpresa às autoridades locais e federais.
Especialistas ouvidos confirmam que a força dos grupos foi subestimada
–o que faz com que a onda de violência se estenda por um período maior
que o esperado, mesmo com o reforço de 700 policiais da Força Nacional,
de outros estados e da reserva da PM (Polícia Militar) do Ceará em
operações.
Segundo uma fonte do governo, a estimativa máxima inicial era que os
ataques cederiam em até uma semana, especialmente após a chegada da
Força Nacional. “Nenhuma outra série de ataques, nem aqui, nem no país,
durou tanto tempo. Mesmo caindo em número, há surpresa da atuação
prolongada”, disse o investigador ouvido sob sigilo de identidade. Essa é quarta série de atentados que o estado enfrenta desde 2016.
O coordenador do LEV (Laboratório de Estudos da Violência da
Universidade Federal do Ceará), sociólogo César Barreira, confirma que a
percepção do poder das facções cresceu no estado com essa onda de
atentados. “Elas estão muito fortes, e foi novidade essa questão. Fomos
pegos um pouco de surpresa”, afirma. “Houve uma provável aliança entre
elas, que passaram a ter o estado como alvo. Por isso há uma
continuidade de ações.”
No Ceará, três facções dominam o tráfico de drogas e lutam por
domínio de bairros e presídios: PCC (Primeiro Comando da Capital), CV
(Comando Vermelho) e GDE (Guardiões do Estado). Além deles, há ainda
presos faccionados à Família do Norte, mas em menor número e sem atuação
mapeada fora dos presídios. Elas fizeram um acordo de paz para atacarem
o estado, que anunciou medidas disciplinadoras em presídios.
Barreira diz que vê acertos do governo do estado no enfrentamento do
poder paralelo dos grupos nas penitenciárias (que gerou os ataques) e em
resposta à onda de ataque. “O estado, em princípio, montou um esquema
que acho correto. O que ele fez em termos de pronunciamento, de não
recuar, de manter essa divisão das facções dos presídios, foi correto”,
afirma.
O conselheiro penitenciário do Estado do Ceará, o criminalista
Cláudio Justa, admite que o poder das facções foi subestimado pelo
estado. “Os espaços prisionais são muito estratégicos para as facções,
elas não querem perdê-los. Infelizmente, o problema do poder das facções
no estado era bem maior que o estimado pelas autoridades”, afirma.
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