PEDIDO DE RECUPERÇÃO JUDICIAL DA ODEBRECHT
O pedido de recuperação judicial feito pela Odebrecht SA, ontem, na
1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial, marca o declínio um dos
maiores conglomerados empresariais brasileiros, com origem na construção
pesada e negócios que foram dos segmentos de petróleo e petroquímica a
concessão de serviços públicos e etanol. Com dívidas de R$ 98,5 bilhões,
incluindo os empréstimos intercompanhias, a empresa – que já foi
símbolo da bonança da economia brasileira – agora é responsável pela
maior recuperação judicial da história do País.
Desde que virou um dos pivôs do maior escândalo de corrupção do
Brasil, a Operação Lava Jato, o conglomerado vem sofrendo um revés atrás
do outro. Nos últimos quatro anos, os contratos minguaram e a dívida
ficou grande demais para o novo tamanho do grupo baiano, que não teve
outra alternativa a não ser recorrer à Justiça para se proteger do
ataque de alguns credores.
O pedido feito ontem inclui 21 companhias não operacionais, como a
Kieppe e a ODBinv – controladoras da Odebrecht –, que eram garantidoras
de dívidas de outras companhias do grupo. As empresas operacionais, como
Engenharia e Construção, Enseada, Transport e OR (braço imobiliário do
grupo), ficaram de fora da recuperação, segundo comunicado da empresa.
Desta forma, elas continuarão renegociando suas dívidas separadamente.
Dos R$ 98,5 bilhões de dívidas, R$ 51 bilhões serão de fato
renegociados com os credores em assembleia; R$ 33 bilhões são de
empréstimos intercompanhias; e R$ 14,5 bilhões são alienação fiduciária –
boa parte referente a dívidas garantidas com ações da Braskem. Segundo
especialistas, embora esse montante esteja fora da recuperação judicial,
os credores poderão aderir ao processo posteriormente. Isso significa
que, no total, R$ 83,6 bilhões poderão ser renegociados no âmbito
judicial, incluindo os empréstimos intercompanhias, que tem efeito mais
contábil na recuperação.
O pedido feito pela Odebrecht começou a ganhar mais força na semana
passada. A empresa tentava de todas as formas escapar de uma recuperação
judicial para evitar a destruição de valor da empresa. Mas, com a
pressão feita pela Caixa Econômica Federal nas últimas semanas, o grupo
sucumbiu à necessidade de recorrer à Justiça. Ontem, antes de seguir
para o Fórum, em São Paulo, advogados e executivos do grupo ficaram
reunidos durante boa parte do dia. O despacho com o juiz estava marcado
para as 16 horas. Quase 50 minutos depois, o pedido já havia sido
protocolado pelo escritório E. Munhoz.
Caixa
A gota d’água para o grupo foi o início do pedido de execução de uma
dívida do Itaquerão (estádio do Corinthians) pela Caixa. Desde que a
Atvos – empresa de açúcar e álcool da Odebrecht – entrou em recuperação
judicial no mês passado, o banco iniciou uma campanha para executar as
garantias das dívidas do grupo. O objetivo da Caixa era conseguir ações
da Braskem para reduzir sua exposição ao grupo. Dos bancos credores,
apenas Caixa e o Banco Votorantim não têm seus créditos junto ao grupo
cobertos por ações da petroquímica. A exposição da Caixa na Odebrecht
supera R$ 2 bilhões.
O problema é que, para dar ações da Braskem, a Odebrecht precisaria
do aval dos demais bancos detentores de papéis. Além disso, como as
ações caíram, o valor da Braskem é insuficiente para cobrir dívidas. Ou
seja, para a Caixa ter as ações, outro credor precisaria ceder parte de
suas garantias (ver ao lado).
Além de Caixa, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), Banco do Brasil, Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS),
Bradesco, Itaú e Santander são os maiores credores do grupo. Segundo
fontes próximas as negociações, quase todas as instituições estavam
dispostas a chegar a um acordo com a empresa, com exceção da Caixa.
O banco tem iniciado um processo para devolução de recursos para o
Tesouro Nacional. A expectativa da instituição é devolver cerca de R$ 20
bilhões até o fim do ano, o que tem feito o presidente da Caixa, Pedro
Guimarães, endurecer as negociações – o executivo tem sido irredutível e
quase atrapalhou a venda de ativos da Odebrecht.
BLOG DO BG
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