A necessidade de complementar a renda da aposentadoria, tema até 
então mais debatido por quem ganha acima dos R$ 5.839 do teto do INSS, 
se estenderá também a trabalhadores com salários mais baixos. Isso 
porque a proposta de reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro 
deverá reduzir o valor dos benefícios de todos os trabalhadores que 
ganhem mais que o salário mínimo.
São duas as vias de corte nas futuras aposentadorias: para receber o 
valor integral do benefício, além de atingir a idade mínima, o 
trabalhador precisará comprovar 40 anos de contribuição ao INSS.
Além disso, os salários mais baixos serão incluídos na conta para o 
cálculo da aposentadoria, o que também reduz o valor dos benefícios na 
comparação com as regras atuais.
De acordo com o texto, homens de 65 anos e mulheres de 62 poderão se 
aposentar desde que comprovem 20 anos de contribuição para a 
Previdência. Nesse caso, porém, o benefício será limitado a 60% do valor
 a que teriam direito caso contribuíssem por 40 anos. Cada ano adicional
 de contribuição eleva em 2% a renda futura.

Como é hoje
Base de cálculo parte, desde julho de 1994, de 80% da média dos 
maiores salários. Sobre isso, é aplicado o Fator Previdenciário ou valor
 entra no cálculo do pagamento do benefício de aposentadoria por idade.
20 anos: Quem se aposentar com o tempo mínimo, de 20 anos, ganhará 
60% da média dos salários de contribuição. A cada ano que o trabalhador 
contribuir além dos 20 anos, será adicionado 2%.
Aos 40 anos de contribuição, o benefício chega a 100% da média. O 
percentual pago poderia ultrapassar 100% da média dos salários para quem
 trabalhar mais.
Fonte: Ministério da Economia
“A gradação praticamente acaba com a aposentadoria integral. O 
trabalhador teria que começar cedo e com salário já elevado. Quem quer 
que queira ter aposentadoria maior tem que estar preparado para 
trabalhar até mais tarde e complementar renda”, diz Jorge Boucinhas, 
professor da FGV.
Atualmente os benefícios de trabalhadores que não alcançam o fator 
86/96 (que soma idade e tempo de contribuição) são reduzidos pelo fator 
previdenciário. Na prática, o sistema tende a punir com mais força 
aqueles que pedem a aposentadoria antes dos 60 anos.
Além disso, o valor do benefício faz uma média dos salários de contribuição excluindo os 20% mais baixos.
Pela regra proposta na reforma, todos os salários serão considerados,
 o que também pode reduzir o benefício, já que, tipicamente, 
trabalhadores começam a carreira com ganhos menores, que vão aumentando 
ao longo da carreira.
“Cria um desconforto, as pessoas vão ter que pensar em como elas 
contribuem ao longo da vida. A reforma é mais dura, mas garante um 
pagamento de benefício”, acrescenta Juliana Inhasz, professora de 
economia do Insper.
Segundo ela, a situação dos trabalhadores com cerca de 40 anos é a 
mais complicada. É uma população que jogava “com o regulamento embaixo 
do braço”: esperava trabalhar mais uns dez anos e, no caso dos 
autônomos, poderia elevar o salário de contribuição a partir de agora, 
para garantir uma aposentadoria maior mais para a frente.
“Agora não vai ter essa possibilidade, e essas pessoas vão ter que se
 acostumar a um sistema diferente daquele para o qual contribuíram. 
Relativamente, elas perdem muito”, afirma a professora do Insper.
Aos 40, quem ainda não poupa para a velhice deveria separar entre 13% e 14% da renda, afirma a professora.
Para ela, aplicações deveriam ser sempre em títulos de renda fixa 
atrelados à inflação, que garantem o poder de compra ao longos dos anos.
O exemplo mais repetido pelos especialistas é o título público Tesouro IPCA+.
Renato Follador, especialista em Previdência e estruturador de fundos
 de pensão no Paraná, afirma que entre 5% e 6% da renda costuma ser 
suficiente para manter o padrão de vida na aposentadoria no caso dos 
trabalhadores com salário até R$ 10.000. Acima desse valor, a 
necessidade de poupança é maior, assim como no caso de quem tem pouco 
tempo para poupar.
Aos 30 anos, o trabalhador ainda terá outros 30 para poupar para a 
aposentadoria. Nesse caso, Inhasz, do Insper, sugere que o trabalhador 
poupe cerca de 10% da renda mensal.
Isso permitiria que, a cada ano, ele tivesse entre um salário e um salário e meio guardados para a velhice.
Para quem está na faixa dos 20 anos, a situação é mais confortável, 
porque há tempo para poupar e os juros jogam mais a favor, pelo longo 
período de investimento.
É por isso que especialistas recomendam que a poupança comece desde cedo.
“Normalmente, do valor total da poupança previdenciária, 69% são dos 
juros do investimento. Em 35 anos [o tempo atual de contribuição exigido
 para homens] é muito dinheiro”, afirma Follador.
Ele é entusiasta do benefício tributário, com abatimentos de Imposto de Renda dos fundos de previdência.
O tema não é consenso entre especialistas. O pequeno investidor ainda
 tem dificuldade de encontrar fundos de previdência que tenham taxas 
baixas e não comam o rendimento da aplicação, especialmente no caso de 
produtos mais conservadores.
Na média, os fundos de previdência complementar atrelados à renda 
fixa renderam 6,54% nos últimos 12 meses, em linha com a Selic, em 6,5%.
“Além da decisão de poupar, as pessoas precisam decidir também que tipo de aplicação desejam fazer”, afirma Inhasz.
COMO POUPAR PARA A APOSENTADORIA
O que é o salário de contribuição?
É o valor considerado para o recolhimento mensal do INSS e usado de referência para o cálculo da contribuição ao INSS.
Quem ganha salário acima do teto, atualmente de R$ 5.839, recolhe um valor limitado ao teto
É possível se aposentar recebendo o teto do INSS?
Atualmente isso já é difícil, porque 80% das contribuições deveriam 
ser feitas pelo teto do INSS. Com as novas regras propostas pelo 
governo, todas as contribuições deveriam ser pelo teto, e o trabalhador 
deverá comprovar 40 anos de contribuição ao INSS. Na prática, as 
aposentadorias serão menores no futuro
E como fazer para garantir que terei renda para me sustentar na velhice?
É preciso economizar parte da renda atual exclusivamente para a aposentadoria, dizem especialistas
Para quem começa a poupar
Aos 20 anos
Entre 5% e 6% do salário líquido mensal
Aos 30 anos
Cerca de 10% do salário deve ser suficiente para quem deseja complementar a renda
Aos 40 anos
Cresce o percentual da renda que deve ser economizado, para até 14% 
do salário. No entanto, a necessidade é maior para quem tem salários 
superiores a R$ 10.000 e deseja manter o padrão de vida
Onde investir?
Depende da idade e do apetite a risco do investidor. Mais jovens e arrojados podem ter parte do dinheiro em ações
A principal recomendação é para renda fixa que segue a inflação, como
 Tesouro IPCA+. Como rende uma taxa de juros acima da inflação, garante o
 poder de compra do dinheiro no futuro.
Folha de São Paulo
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